Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é

... e é essa a revelação maior... que nos trava ... que nos liberta ...

Ah, bruta flor do querer ...

Escreve nesta parede

as flores que vês

nos impossíveis caminhos

de verdes por inventar

escreve muros altos

até dias cinzentos

mas escreve...

mesmo que escrevas

versos sem rimar

Olhos nos olhos

... mergulhando na negritude felina de quem arrisca ficar mais perto... mais perto...

Decanta em cada canto um instante

Se toda escada esconde
Uma rampa
Ampara o horizonte
Uma ponte
Para o oriente
Um olhar
Distante

Em volta de um assunto
Uma lente
Depois de cada luz
Um poente
Para cada ponto
Um olhar
Rente

E a montanha insiste em ficar lá
Parada
A montanha insiste em ficar lá
Para lá
Parada
Parada

Diante do infinito
Um mosquito
Em torno de um contorno
Gigante
Cada eco leva
Uma voz
Adiante

Decanta em cada canto
Um instante
De dentro do segundo
Seguinte
Que só por um momento
Será
Antes

E a montanha insiste em ficar lá
Parada
A montanha insiste em ficar lá
Para lá
Parada
Parada

Vou te contar

Guardei numa caixa de madeira todo aquele tempo... como quem guarda uma fotografia, mas que decide não mais a olhar. É o peito que teima, sempre que o cheiro daquela caixa invade o futuro que nunca existiu. A vida que vivi... essa, tem sido uma outra coisa... vou te contar...

Alguma coisa acontece

... deixar o vento

soltar

cada momento

e depois rodopiar

lançar

dançar

sentar

numa inquietude

gigante

de um movimento

cessante

não ser por isso só

e ser apenas e só por isso

viajante

voar...

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é

Ah, bruta flor do querer ...

... ah, bruta flor, bruta flor...

Era uma vez

... muitas janelas ao entardecer, esperando noites estreladas ...

Uma palavra tua

... pinta casas numa tela

de uma cidade esbatida

pelo tempo

pelo sofrimento

pela ausência

e pela dor

de cores

invisíveis

cravadas na pele

de cores esbatidas

trazidas no vento

das vozes sofridas

nasce um lamento