terça-feira, 28 de junho de 2011

Talvez

... chegue um dia uma sombra ser frase ...

e se revele a voz nublada em tom definido

e não se espere mais do que isso ...



domingo, 26 de junho de 2011

O tempo passa


... por nós
e como brisa
sinto no rosto
os passos
que nos meus olhos
demoram...
.
o tempo passa
e vejo pela rua
os mesmos rostos
as mesmas vozes
as mesmas mãos
os pulsos...
respirando
como passagem que são

o tempo passa
como água pela minha mão
como flecha sem poente
o tempo é prosa e ardente



quinta-feira, 23 de junho de 2011

Anjo

... vestir a alma de branco e deixá-la esvoaçar como um vestido... caminhante no meu corpo...
.
*para a MI com muito carinho...


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Abraço

... palavras que se libertam nas amarras de um cais ...


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Nós dois


... sempre que ao nosso lado correr um rio para abraçar o mar ... e nas águas fluir um lugar para dois... e isso ser terra agora, e não depois ...


sábado, 18 de junho de 2011

Espreitar


Espreitar

o mar

o sal

a viagem

até a outra margem ...

espreitar

do preto a cor

e da ondulação

a brisa que acalma

.

ser musa

e inspiração

para navegar

.

espreitar

pode ser não mais

que um outro olhar


quarta-feira, 15 de junho de 2011

Zero


... onde o nada, pode ser tudo ...

terça-feira, 14 de junho de 2011

Dor


Talvez pareça fácil
escrever nas palavras
a dor
e até pareça leve
dizer a mágoa de cor
.
mas não é fácil deixar secar
a água transparente
que corre para morrer


domingo, 12 de junho de 2011

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é


... nas cores que passam à porta ou no chão da rua onde mora a vida ... sem demora ...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Gente da minha terra

... por onde se espreita, se guarda e se estende... a alma de cada um ...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Amanhã


... vai ser assim!

*esta voz será para sempre uma voz em mim...

terça-feira, 7 de junho de 2011

ICOSAL

"A ICOSAL é um icon dos anos setenta, caramba!!!
A Revolução passou pela ICOSAL, o primeiro pé de cabra a derrubar o Muro de Berlim, palpita-me, veio da ICOSAL, e Neil Armstrong disse, na Lua:
- Eu vejo-a daqui, eu vejo-a daqui!!
- O quê? A Grande Muralha da China? - respondeu Huston
- Qual quê!!! A Icosal! A ICOSAL!!!
E mais vos digo que a ICOSAL recusou a presença da Troika...

Se calhar já dei pistas a mais...

Olha, aqui em baixo apareceu ICOsAL como paravra de verificação..."

Comentário explicativo de Yanneck, registado aqui.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Os livros saíram à rua (fim)

De regresso a casa, olho para os livros expostos no chão... São como objectos com destino marcado para viverem perto das minhas mãos... e assim começam viagens por mar de letras nunca dantes navegados ... e assim escrevo um fim, mas sem mágoas (são esses os fins de que gosto)... pois abre-se uma outra página... nasce assim o desfolhar...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Os livros saíram à rua (quinze)


"E aqui anda a noite à roda e eu com ela como um papelinho com que o vento brinca, apanha-me, larga-me, empurra-me, corre, mais adiante, a prender-me nos dentes, esquece-se de mim, torna a lembrar-se, poisa-me uma pata em cima, vai-se embora. O vento. Em certas alturas, dantes, na casa velha dos meus pais, estremecia os caixilhos, na de Nelas batia um ramo contra a janela e eu deitado no escuro, com medo, enquanto o ramo falava sem cessar. Dizendo o quê? Nunca entendi o vento. "



"Não digas nada, dá-me só a mão. Palavra de honra que não é preciso dizer nada, a mão chega. Parece-te estranho que a mão chegue, não é, mas chega."




Fiquei sem palavras... António Lobo Antunes à minha frente. Quando percebeu que o estava a fotografar, deitou-me a língua de fora e sorriu. Consentiu. Eu sorri... de alívio também! A tentação de fotografar rostos prega-me tantos sustos... mas compensa! Durante uns bons minutos fiquei a observar a forma como escutava quem lhe pedia um autógrafo. O seu olhar é de uma ternura imensa... faz cada vez mais sentido para mim a sua escrita... perco-me em cada frase, em cada pensamento seu ... vou-me encontrando assim ...
Escolhi uns pedacinhos de crónicas que acompanham cada fotografia de António Lobo Antunes. E agora, olho cada uma destas imagens como se olhasse um lugar que trago comigo, as palavras deste escritor fazem de mim uma outra pessoa...



"O meu avô dizia-me muitas vezes que um homem sem amigos não é nada. Pode ter tudo na vida, garantia ele, dinheiro, casas, mulheres, filhos, saúde (e continuava a lista) mas se não tiver amigos é um infeliz, um pobre de pedir. Eu olhava o meu avô sem acreditar porque as pessoas crescidas são tão ignorantes e com tanta falta de sentido das coisas essenciais: nunca conheci nenhuma, por exemplo, que juntasse, como eu fazia, pirilampos numa caixa de fósforos para o caso de não haver electricidade."


"E agora começa a anoitecer tão cedo. A minha mãe conta que quando era pequeno, três anos, quatro, cinco, sei lá, me tornava melancólico ao crespúsculo. Não me lembro nada disso mas é capaz de ser verdade porque o fim do dia sempre me trouxe, sei lá porquê, uma espécie de tristeza mansa, um desejo vago de coisas mais vagas ainda, uma inquietação doce, um estado de alma inpossível de exprimir, não inteiramente agradável, não inteiramente desagradável, estranho apenas, um (como dizer?) sorriso com uma lágrima tranquila dentro, percebem? Tão difícil traduzir as emoções em palavras, é tão pobre o vocabulário que temos e vou-me consumindo nos livros a procurar exprimir isto."




"De vez em quando faço umas revisões interiores e lembro-me mal dos anos que passaram: tenho a certeza que só esta manhã comecei a viver e nada sei do mundo, que sou demasiado recente, que o meu tempo não começou ainda. Reparo nas coisas espantado, sem as conhecer, e duvido sinceramente que me pertençam. Nem vejo a caneta que escreve:anda por aí a desenhar as letras e a cabeça flutua, cheia de nuvens, entre o tecto e a vidraça."


Admirar alguém de quem se gosta é a perfeita fotografia... que guardarei para sempre dentro de mim...


quinta-feira, 2 de junho de 2011

Os livros saíram à rua (catorze)



... projectando...



... as palavras ...


... na voz ...