De corpo e alma

Passeia na rua com as palavras pela mão, já não as guarda à toa, é que o vento… vagueia devagar na pressa de um outro destino, teimando esquecer o corpo, devorando a vontade de vencer, a alma. Segue… nos passos que o seguram ao chão. Segue… com as palavras perdidas na mão…

Ver para crer

Fazer os possíveis e os impossíveis

Em concha

... as palavras são uma manta ... agasalho para o frio...

... quieta, escuto ...

Sem

Sem imagens
os dedos da mão
não tocam montanhas
nem sentem o cheiro
nublado da planície

sem a voz
os meus olhos sem ver
sem a pele
nus... mas sem medo de morrer

Silêncio

Sinto um tremor gélido
no silêncio de uma canção
mas por mais que negue
ou deixe de cantar
só no escuro percebo
que quem manda
a melodia parar
é afinal o meu coração

Sei lá

Tem dias que eu fico
Pensando na vida
E sinceramente
Não vejo saída
Como é, por exemplo
Que dá pra entender
A gente mal nasce
Começa a morrer
Depois da chegada
Vem sempre a partida
Porque não há nada
Sem separação

Sei lá, sei lá
A vida é uma grande ilusão
Sei lá, sei lá
Só sei que ela está com a razão

Ninguém nunca sabe
Que males se apronta
Fazendo de conta
Fingindo esquecer
Que nada renasce
Antes que se acabe
E o sol que desponta
Tem que anoitecer
De nada adianta
Ficar-se de fora
A hora do sim
É um descuido do não

Sei lá, sei lá
Só sei que é preciso paixão
Sei lá, sei lá
A vida tem sempre razão

Balançar

Quantas vezes hesitei balançar a porta encostada, vestida de cinzento de uma frase por espreitar…
quantas vezes preferi não ter, a ter que deixar de sonhar…
agora, leio assim…
perdidamente... sem hesitar…

Escolha

Há um lugar escrito no horizonte
... até lá, há o mar…

Onde andarás

Ando por aí...
por todos os lados
onde se olha o mar
onde andarás

Por quem os sinos dobram

Repetir

... o teu olhar ...

Antes de virar a esquina

Volta para o mais fundo de ti
descobre em cada recanto o canto em si

que antes de virar a esquina
e já sem olhar para trás

pressinto que esta, é uma outra rua
a rua de um sonho fugaz…


*passos à solta que prendem os pés

Colo

Quando as palavras se sentam junto… e ali permanecem… e não se separam, nem sequer por um tracinho…

Olhos nos olhos

... quantas palavras perdidas ...

A sul

Confundia-se mar e terra, era noite cerrada… as palavras atropelavam-se nos braços e pele, em tombos… colados no breu. Ofegante respiração… distraída não percebeu, que a sul e antes do mar, há um muro… a razão mais cruel, que mata assim a vida nascida no escuro…