Acordou mais tarde, deixou que a noite se prolongasse pela manhã, adiava sentar-se na mesa para escrever… inventou mudar os lugares da casa, despiu-se e vestiu-se sem querer, bebeu mais cafés do que o habitual, preparou o almoço mesmo sabendo que para além dela ninguém viria almoçar… abriu todas as janelas da casa, sacudiu as roupas dobradas, penteou os cabelos molhados saídos de um banho mais demorado, olhou para os quadros pendurados nas paredes do corredor, que naquela manhã mais do que em qualquer outro dia, lhe pareciam agora pintados de outras cores… sabia que o dia caminhava para o fim e tinha que escrever sobre a sua decisão. E sabia que se adiasse mais uma vez, a sua vida não mudaria nunca, e isso era o que já tinha decidido não vir a acontecer… sabia acima de tudo que adiar era ficar, e ir era a decisão. Sentou-se na secretária, ligou o seu computador e escreveu o endereço do destinatário. Faltava agora o texto, corpo da sua vontade… “Chego no dia dezanove. Está muito frio em Roma?”
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