Não deixe o samba morrer

Tatuagem

... "para seguir viagem quando a noite vem" ...

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Elis Regina: Há vozes que ficam em mim como uma tatuagem!

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Na pele

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De leve
muito ao de leve
sobre as costas devagar…
os dedos pousados na pele
perdidamente a despertar
como asas de papel... leves...
desejando o sal inteiro que mora na água do mar
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Escutar

... requer tempo em nós ... e espaço, para receber... e mais tempo depois, para devolver o que se escutou entretanto e se saboreou... e nos tornou numa outra coisa maior... e assim, nunca se perde tempo, e sente-se a vida muito melhor...

Escutar... pode ser respirar... ou não...

Espreitar

Do lado de cá
é o nosso olhar
que faz perguntas
com palavras
.
.

.

.
c
a
í
d
a
s

.

..

.
e deitadas...
.
em busca de assento
ou será alento

.
na procura
do que és
ou seremos…
sempre que eu te espreitar
e te respirar...

do lado de cá
no meio de mim
há um mar imenso a devorar
.
o que vais ser tu afinal
senão a vida inteira
e um brilho nos meus olhos a perdurar
..

.

Há lugar para ser feliz

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“O bom do vazio é que pode ser preenchido”

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Um dia alguém comentou assim, e eu gostei. Muito!

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Nós

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só nós

de um tal jeito

metidos no riso

por dentro do peito

.

Privado

.

Instante
fechado
guardado
para si…
sonante
palavra
deitada
em
mim…
em ti…
que adormece
no meu peito
e nós
a sós
enfim…
.

Amanhecer em Lisboa

Na Lisboa que amanhece (Sérgio Godinho)

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Amanhecer no teu olhar
é o acordar de uma cidade inteira

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(Não) vou escrever!

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Basta uma música apetecida naquele momento… e basta cerrar os olhos… que das letras saltam palavras escolhidas aos molhos… é assim a vontade de escrever, e é assim que me costuma acontecer!
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Basta o pensamento se atropelar… e a música deixar de tocar…ou basta que o silêncio profundo da noite, acorde… e me leve para passear… é assim que acaba a vontade de escrever, e é assim que me costuma acontecer!

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Tão perto...

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tão perto
que desperto
ainda longe
os meus pés
em areias
movediças
molhadas
pelo mar
que o sol
vai ceder
outros cantos
grãos de areia
em que as ondas
vão rolar
como se eu fosse
uma sereia
e fosses tu
a minha vontade
em respirar...

.

Entre o céu e a serra

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Entre o céu e a serra
está o mar por perto
deitados nesse chão
de areia do deserto

como se fossem reis
perdidos na escuridão...
na ânsia de acertar dias
mas as noites, não

fogem por fim, presos e sós…
olhares despidos na voz
.

Este livro nas minhas mãos

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Desfolho o livro devagar e a minha vida lá dentro encontra a tua mão, que em cada palavra teima em se aproximar… e assim leio os teus olhos nos meus... e só assim eu vivo… quando tu chegas para viver também...

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Uma outra luz

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Quando acordasse ainda de noite, saberia esperar o dia amanhecer sem que desse pela luz lá fora… era agora neste espaço... de tempo, que mergulharia o seu corpo na água. O cansaço dos dias ditava uma outra luz... uma luz a sós, a dois... com tempo para se encontrar, perdidamente… uma luz assim, que fizesse o sonho acordar enfim…

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Orquestra

... na voz do meu coração ...

Espera

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... breve ...

... porque te senti partir preso a mim ... no mesmo cais onde te irei esperar ...

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Sentes?

.

Sentes?

agora a minha mão...
afinal depois de mim
há o teu coração

.

Sentes?
agora a tua mão...
não somos de pedra

nem feitos de algodão

.

Entra aspas

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“"segurar" dentro de risquinhos o que “soltamos” para dizer”

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Teimosia

escuto o que se vai desenhando...

há sempre alguém que nos ouve...

há sempre alguém à escuta...

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são os teus dedos ainda pequenos

a caminhar no meu peito

é o amor que teima... nesta doce luta

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Nua, de branco

Nua, de branco
vestia o olhar
molhado
sangrando

nunca esperou
o não
depois do sim

por isso
temia
a vida
e não o fim

Entrelinhas

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despir as palavras discretamente
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_______________________________

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deixando-as voar...

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E qualquer desatenção... pode ser a gota d`água!

Desde sempre que ando às voltas com esta canção. Ela está na minha vida com o melhor sentido que a vida me pode dar "... com qualquer desatenção pode ser a gota d`água...", desde sempre também Chico Buarque e desde sempre e para sempre a música sem qualquer desatenção...

Desde sempre, mas sexta feira... foi mesmo a Gota D`Água!

*Nota máxima para a prestação de Izabella Bicalho (Joana), no musical Gota D`Água de Chico Buarque e Paulo Pontes, um dos melhores que vi até hoje!

Cuidado, não vás pela floresta!

... pela estrada fora, eu vou bem sozinha ...

É a promessa de vida no teu coração

.
palavras
podem
ser
pingos
de voz
a
.
.
descer
e
.
.

caírem
no corpo
que as ouve
na boca
a dizer...
.
e depois
o corpo
responde
na voz
e respira...
dentro
e a sós
.
e cada palavra
dita
e
pin ga da
pode
molhar
uma mão
tudo
ou nada
.

Se estás bem então ficamos mais tempo

Ceder...

Em cada mala maior

Em cada mala
maior
a certeza
de uma viagem
incerta
cada bolsa lá dentro
é do tamanho do que escolho viver
.
(bolsas mais pequenas, dentro de uma mala maior… )
.
e pelo caminho
vou sempre perdendo
mas nesse caminho
vou sempre encontrando…

Outro retrato em branco e preto

.
Um gesto
ainda
precioso momento
a revelar…
deixo que amanheça
a água dos meus olhos...
nos dedos quietos
que passeio no escuro…
que hoje é cedo
e eu vou esperar
acordar assim
em branco e preto…
.

"Escravos" vermelhos

"Mãe, o 25 de Abril foi a guerra dos escravos vermelhos!"

Espreitar

Eram os meus olhos a espreitar pedaços de vida, bocados de mar reflectidos num vidro… frágil e transparente… um vidro diferente… espelhado no meu olhar molhado, que não se via de fora, porque se queria, assim, por dentro… só e a sós. Mas havia sempre quem se aproximasse, para espreitar mais do que a água reflectida no meu olhar… e depois os pedaços riscados faziam sombras e confundiam os passos lá fora. Eu sei que esperavam um sopro de ar… como eu.

Lábios cor de açaí

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A franja da encosta
cor de laranja
capim rosa chá
o mel desses olhos luz
mel de cor ímpar
o ouro ainda não bem verde da serra
a prata do trem
a lua e a estrela
anel de turquesa
os átomos todos dançam
madruga
reluz neblina
crianças cor de romã
entram no vagão
o oliva da nuvem chumbo
ficando
para trás da manhã
e a seda azul do papel
que envolve a maçã
as casas tão verde rosa
que vão passando ao nos ver passar
os dois lados da janela
e aquela num tom de azul
quase inexistente, azul que não há
azul que é pura memória de algum lugar
teu cabelo preto
explícito objecto
castanho os lábios
ou para ser exacto
lábios cor de açaí
e aqui trem das cores
sábios projectos:
tocar na central
e o céu de um azul
celeste celestial

.

* "Trem da cores" música de Caetano Veloso

** há músicas com sabor e cor...

*** e há quem consiga dizer tudo isso, com o olhar e com o sorriso...

Entre céu e mar

Vou nessa estrada entre a terra molhada e o céu mais escuro, vou numa estrada clara e a caminho de ti. E é nessa estrada, que tem um farol, que avisto lá longe, a minha chegada por fim.

Talvez seja do meu olhar, ou no céu existem de verdade todas as ondas do mar... e por isso vou assim, muito mais devagar...