Talvez me sente ainda um dia
com esse livro com que me atormentei
Talvez eu abra ainda um dia
uma página do sal que só o mar tem
Ou talvez vire as costas à primeira linha
adivinhando o que não fui nem nunca serei
Mesmo de noite, onde a luz das palavras pode revelar ou o olhar pode dizer e depois amanhecer, clarear...
Talvez me sente ainda um dia
com esse livro com que me atormentei
Talvez eu abra ainda um dia
uma página do sal que só o mar tem
Ou talvez vire as costas à primeira linha
adivinhando o que não fui nem nunca serei
E fez-se música no meu olhar, quando ouvi mais uma resposta assim: claro que pode fotografar... e depois fez-se canção na minha memória ... “Será que existe em mim um passaporte para sonhar...”, com este pedaço de 125 Azul.
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Sim, os Trovante!
Escolher
as palavras
como se as mãos
procurassem
nas letras
todo esse dizer
que nos conta
sem conta
que dos diz
que nos faz
e desfaz
que nos procura ...
.
sim, os livros encontram-nos
se nos deixarmos perder...
Para ti
Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
Mia Couto
Aguardo essa página
por ler
aguardo uma manhã
por amanhecer
aguardo assim
por esse livro
escrito com letras
de um suave entardecer
Sabia-o na feira do Livro de Lisboa. Mas mesmo assim não queria acreditar! Com a sua permissão tive a honra de o fotografar, e enquanto o autógrafo se "desenhava" no lindíssimo “António Barreto: fotografias “, tive o privilégio de testemunhar a simplicidade que o seu olhar espelha... As fotografias de António Barreto estão repletas de histórias e isso não se prende unicamente com o tempo, como me fez questão de referir, mas sim com o olhar... António Barreto olha as pessoas, como se olhasse pelas sua vidas... e isso, é que faz a diferença.
..
*Tenho mais um livro de que gosto muito, e também uma fotografia muito especial...
.
*Em forma de agradecimento, escolhi um pedaço da forma tão bonita como agradece neste livro tão especial... Muito obrigada, António Barreto!
.
Não me digas a metade
as palavras todas
são sempre desalinho
não me digas a noite inteira
quando o dia cai
na escrita de um caminho
não digas tardes quentes
diz-me das ruas
das árvores e das sementes
diz-me em choro
o teu sorriso
e sem luz
a tua boca
diz-me devagar
na melodia que seduz
a fragilidade ser um dia
e a vida ser tão pouca