terça-feira, 4 de novembro de 2008

Os dias de um quarto maior


Sentados lembravam agora os dias de um quarto maior, as vozes de meninos e meninas, piões e carrinhos de linhas. O violoncelo a tocar, e entre panos e olhares, meninos a brincar. Eram os filhos, nas mãos de quem sonhava um dia casar. Eram sonhos de um sótão escuro e repleto de ferros e loiças, de medos e bruxas. Os seus olhos fixam agora quem passa numa sala mais clara, e juntos, despidos em sonhos, dizem aos livros que vivem por perto, palavras do coração. Sentados, lado a lado, seguem os olhos de quem os guarda como se fosse numa canção.

1 comentário:

Vítor disse...

E o tempo foi-lhes roubando quase tudo: o violoncelo é já só quase um eco; os meninos e as meninas casaram e tiveram os seus verdadeiros filhos; os sonhos... regressaram muitas vezes ao sótão escuro transformado em cave iluminada...
Até as roupas o tempo lhes acabou por tirar!
Mas o tempo não os conseguiu separar, nem um do outro, nem do olhar de quem "os guarda" e guardará para sempre por mais pequeno que venha ser o quarto.