segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Palavras

No céu procuro as palavras mais doces.
Procuro, procuro, procuro...
No vento abraço-te.

Sentes?

6 comentários:

Cati disse...

Como não sentir?

Um beijo, boa semana*

S. disse...

Eu sinto-te.

Um grande beijinho

Lady Godiva disse...

E encontras o que procuras, Clarice?

Vítor disse...

Belo! Tão belo que me fizeste lembrar outro também belo:


Procuro-te

Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.

Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.

Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.

Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.

Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.

Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre - procuro-te.

Eugénio de Andrade, As Palavras Interditas

Cati disse...

O poema que o Vítor recordou é somente o meu poema favorito...

É perfeito.

Clarice disse...

Cati: obrigada :)

Sofia: a tua presença é o abraço sentido daqui.

Lady godiva: às vezes não se procura, encontra-se. Depois? diz o tempo, se há realmente alguma coisa para dizer!

Vítor: Lindo é esse poema "Palavras Interditas".
O que eu escrevi é outra coisa!